domingo, 27 de março de 2011

Filosofando sobre feitiçaria

Χαίρε!

Dando seguimento ao post anterior, gostaria de esclarecer alguns dos meus pontos de vista com relação à prática mágico-religiosa e a feitiçaria de maneira geral.
Desde tempos imemoráveis a magia está presente nas crenças populares e nas práticas religiosas, seja para justificar uma ação divina ou um evento natural quanto para encontrar cura para males diversos, para purificações, para “ajudar” as forças divinas a manter o equilíbrio do planeta ou até mesmo para fins menos dignos, como a busca pelo poder e o domínio da vontade alheia.
O que define um ato mágico como sendo bom ou mal não é a magia em si, mas sim a forma como ela é aplicada e a índole de quem a utiliza.
Na antiga Grécia, tais práticas eram divididas em Alta e Baixa magia, conceitos que até hoje são utilizados por inúmeras escolas, muito embora com o passar do tempo e o crescimento das ordens esotéricas esses conceitos tenham sofrido algumas mudanças na interpretação de seus sentidos.
A alta magia é aquela em que o praticante não “utiliza” nenhuma divindade ou força na natureza, mas sim é assistido por eles. É um trabalho em comunhão com os Deuses, que podem ou não te ajudar de acordo com a Sua vontade. Neste ponto, os Deuses são o núcleo de qualquer ato e o sacerdote é apenas um mediador. Já no que refere-se à baixa magia, quem a pratica não busca este estado de comunhão com o divino, mas sim a manipulação dos Deuses e das forças da natureza. Esse tipo de ação gera o que os helenos chamam de ϐρις (hybris).
A ϐρις é tudo aquilo que é desmedido. É o exesso de orgulho e auto-confiança, é a insolência, a arrogância e a presunção. É acreditar-se superior aos Deuses e à Natureza, e não parte dela.
Encontramos exemplos claros de ϐρις na Odisséia de Homero quando Odisseu desafia e desrespeita Posseidon, sendo condenado a vagar pelos oceanos sem nunca encontrar o caminho de volta para casa.
Na Odisseia vemos também Circe (Κίρκη), a feiticeira, que pratica desmedidamente a baixa magia transformando homens em bestas a seu bel prazer. Em contrapartida, Odisseu é auxiliado por Hermes, que o instrui a utilizar uma erva para se defender dos encantos de Circe, o que podemos definir como Alta magia.
Práticas oraculares e divinatórias como as de Delfos, por exemplo,  também estão relacionadas à magia uma vez que para tais práticas, é necessário entrar em um estado alterado de consciência e lidar com forças ocultas.
Empédocles (μπεδοκλς – filósofo siciliano que viveu aproximadamente entre 495 e 435 AEC) dizia que havia duas forças fundamentais que mantinham o universo, o Amor, que construía tudo unindo os elementos  da natureza e o Ódio, que os separava, causando assim a morte de tudo.  Portanto, vamos nos unir, assim como se unem os elementos e vamos construir em atos de Amor!
ἔρρωσο!

sexta-feira, 25 de março de 2011

ΕΛΕΥΘΕΡΙΑ

Bem, acho que não há melhor maneira de iniciar este blog do que falando, antes de qualquer coisa, sobre alguns conceitos básicos.
O primeiro deles é ΕΛΕΥΘΕΡΙΑ, a liberdade. É muito comum se ouvir falar sobre liberdade nos dias de hoje. Liberdade religiosa, liberdade de expressão, e por aí vai. Mas para os helenos a liberdade tem uma conotação muito mais profunda do que esta falsa liberdade cheia de superficialidades e interesses egocêntricos que vemos hoje. É muito simples dizer: - Eu sou livre! - na hora de impor a sua vontade ou de lutar por um suposto direito. Mas o que não nos damos conta é que esta liberdade é recheada de amarras sócio-culturais, políticas e, no nosso país, dogmas judaico-cristãos.
Dentro da fé helênica a ΕΛΕΥΘΕΡΙΑ (eleuftheria) é simplesmente, porém não menos complexa por isso, o estado de EXISTIR, aspecto este que é inerente ao universo (Kόσμος) e à vida (βίος). Para a fé helênica a ελευθερία funciona como uma “lei natural”, e absolutamente tudo está sujeito a se submeter a esta lei e suas conseqüências quando rompida.
A máxima de Aleister Crowley que diz: “Faz o que tu queres. Há de ser o todo da lei” foi certamente inspirada no conceito da ελευθερία e expressa bem o que ela significa. No entanto, não podemos esquecer que tudo também está interligado, como em uma grande teia, e cada ação, tem uma reação. A ελευθερία, por ser uma lei natural, não é diferente de nenhuma lei da física, incluindo a da causa e efeito.
A intolerância religiosa é um mal que infelizmente é mundialmente e constantemente permeado, e é motivo para os extremistas declararem guerra.
Outro conceito importante da fé helênica é a Πολυμορφια, ou seja, a diversidade. É importante notarmos que a diversidade (polymorphia) é intrínseca ao Kόσμος, portanto está presente na Natureza e é aspecto inerente da λόγος, que segundo Heráclito, é a nossa capacidade de racionalização.
Falei de todos estes conceitos apenas para iniciar o meu blog com uma defesa rasa, porém necessária, dos apedrejamentos vindos dos extremistas ou conservadores, pois neste blog falarei sobre as minhas experiências e idiossincrasias sobre bruxaria e as práticas da mesma na Polis grega.
Bruxaria (e lá vou eu com mais um conceito), como o próprio nome sugere etimologicamente – do latim: plus = mais; scio= saber – é a Arte dos sábios, e informação nunca é demais, assim como deixa claro que um bruxo não é um feiticeiro que sai por aí lançando maldições e maus agouros, ou costurando bocas de sapo com nomes de pessoas, mas sim alguém que busca uma vida permeada pela sabedoria e enriquecida com o legado deixado por nossos ancestrais. E quando falo de ancestralidade, não me refiro somente a uma linhagem hereditária sanguínea, mas sim da ancestralidade humana, independente de etnias.
Deixo aqui o meu bem-vindo e fico na esperança de que possamos juntos ter momentos cheios de sabedoria e bênçãos dos Antigos.
ρρωσο!